Eles venceram, mas tinham tudo para dar errado
A saga de dois empresários brasileiros que nasceram pobres
:: Por Inácia Soares ::
Todo mundo gosta de ouvir histórias de sucesso. Conhecer a
trajetória de pessoas que começaram do nada e construíram grande patrimônio é
sempre empolgante. Neste artigo eu resolvi satisfazer o desejo dos meus
leitores, mas de uma forma diferente. No lugar de contar a histórias quase
inacreditáveis, resolvi falar de empreendedores que, mesmo bem-sucedidos, podem
passar por pessoas anônimas.
Todo empresário de sucesso diz que venceu na vida porque foi
determinado. Ou seja, não é ter a melhor idéia que conta mais, mas insistir
nela. Eu mesma conheço muitas pessoas que, sentadas em uma mesa de bar têm
sugestões maravilhosas sobre todos os assuntos, mas que ficam somente nisso. Da
idéia à realização existe uma grande distância e por isso tanta gente desiste
no caminho. Não é fácil realizar uma grande idéia, ainda que ela seja mesmo
muito boa. O processo de execução exige cuidados e correções que costumam levar
embora o entusiasmo inicial, mas não foi o que aconteceu com Wilson Fernandes
Silva e Aguinaldo Alves Ribeiro, meus personagens.
Um carrinho de Pipoca
Wilson Fernandes da Silva nasceu em família humilde, em
cidade pequena e tinha tudo para repetir esse legado, mas surpreendeu a família
e a cidade. Na infância, via a mãe fazendo milagres para alimentar os 11
filhos. Órfão de pai desde bebê, ele ignorou tudo isso e construiu seu futuro.
Dos estudos, só levou o diploma da quarta série, e com ele nas mãos, se atirou
ao trabalho. De manhã, vendia jornais, e faturava bem, de tão simpático e
ligeiro. Guardava a comissão no bolso e ia para a feira comprar laranjas. Na
parte da tarde, andava pelas ruas vendendo as frutas. Mais dinheiro para a
caixinha. E assim, Wilson Fernandes ia cuidando da mãe doente. Depois, vieram
os 11 filhos do casamento que já dura 52 anos. Uma vida sofrida, e igual a
tantas outras, mas diferente na determinação. “Sou muito feliz e realizado.
Parece que tenho uma proteção divina. Deus me protege mesmo”, comenta sorrindo,
e lembra quando foi eletricista de uma mina e levou um choque. Ficou quatro
dias em coma e só não morreu porque Deus não quis, garante ele. Do episódio,
resta o braço direito atrofiado.
Mesmo aposentado por invalidez, não parou de trabalhar e
ainda fez mais do que a maioria das pessoas saudáveis, que somente sonha. Ele
levou os 11 filhos até a faculdade e garantiu um imóvel para cada um. Todos
moram na cidade de Nova Lima, a 20 quilômetros de Belo Horizonte. Quando se
junta aos filhos e aos 20 netos, todos saudáveis, o vovô de 74 anos fica com os
olhos cheios de lágrimas, principalmente, por saber que a missão foi cumprida
no comando de um carrinho de pipoca. Somente um e não uma frota. Esse foi o
ganha-pão do Tio Wilson, apelido carinhoso que ganhou na cidade. Trabalhando
sete dias por semana, o pipoqueiro mais famoso das redondezas conquistou
clientela fiel e exigente. Qual a receita da pipoca? Milho bem catado, óleo de
soja, uma pitada de sal e simpatia. E nas finanças, a receita é poupar. “Eu
sempre guardei 10% de tudo o que eu ganhei”, assegura. Eis a história do homem
que garantiu a educação de 11 filhos e casa própria para todos apenas vendendo
pipoca. E você ainda acha que é preciso ter uma grande empresa para ter um grande
sucesso?
Pamonha, pamonha, pamonha
A trajetória de Aguinaldo Alves Ribeiro também é empolgante.
Ele mora em Patos de Minas, a 417 quilômetros da capital. Aos 49 anos, se
orgulha de tudo o que viveu. Tempos bons e ruins. Entre 13 irmãos, a vida nunca
foi fácil, e Aguinaldo foi o único que jogou por terra o peso da pobreza. Só
estudou até o quarto ano, pois trabalhar era a saída para sobreviver. Sempre de
olho em algum jeito de ganhar mais, foi balconista de loja e vendedor
ambulante. Chegou a montar um comércio de alho em cartela, até que a concorrência
incomodou demais. Com a ajuda de amigos comprou algumas cabeças de gado, mas a
venda do leite não justificava os custos e ele partiu para a horticultura, com
esperança renovada. Plantou repolho, beterraba e tomate. Era o início do Plano
Real e a saca de 30 quilos de repolho, que rendia R$ 10, não demorou a cair
para R$ 1,5 desandando o negócio e criando dívidas.
Em uma das idas à capital para vender a produção, viu um
vendedor de pamonhas acabar com o estoque em poucos minutos diante de consumidores
encantados. Aguinaldo Ribeiro voltou pra casa determinado a fabricar pamonha.
Com a ajuda da esposa, passou semanas tentando acertar o tempero e o cozimento.
No começo, dependia de milho terceirizado, mas dois anos depois passou a
plantar a matéria-prima na própria fazenda garantindo a qualidade que o
transformou no Rei da Pamonha na região do Triângulo Mineiro e Alto Paranaíba.
O patrimônio aumentou, levando conforto e segurança à família. Hoje, Aguinaldo
tem 45 funcionários e produz cerca de 800 pamonhas frescas de 250 gramas por
dia e se orgulha da independência financeira que conquistou. “Nunca fiz
empréstimo. Tudo o que eu tenho foi com dinheiro próprio”, diz orgulhoso. E a
fama desse ex-vendedor de laranja vai longe. Ele acaba de receber a proposta de
uma grande rede de supermercados para fabricar pamonhas com exclusividade. A
oportunidade assusta, pois Aguinaldo está comprovando o sucesso que nem ele
mesmo se dava conta de ter conquistado: “Sou uma pessoa muito simples. Quando
estou no meio dos meus funcionários ninguém sabe quem sou eu”. E para esse
homem do campo, sucesso é surpreender o passado, mudando o trajeto do menino
que nasceu pobre. A próxima parada desse empreendedor? Conhecer Nova York e
colocar a Time Square junto aos cartões postais das cidades brasileiras que ele
e a família já visitaram. Mas talvez antes disso, a pamonha do Aguinaldo chegue
ao supermercado ao lado da sua casa, seja lá onde você estiver.
Isso nos mostra como uma idéia quando não é posta em prática
não vale nada. Ter idéias todo mundo tem, agora colocá-las em prática, driblar
os obstáculos, para construir um futuro melhor é o que diferencia pessoas de
sucesso dos demais . Há uma frase de Henry Ford que diz:
“Os obstáculos são aquelas coisas terríveis que você vê, quando
desvia o olhar do seu objetivo”
E é isso que devemos fazer todos os dias para alcançar o
sucesso não só na profissão, mas também na vida pessoal.
:: Inácia Soares é editora e apresentadora do programa Mesa
de Negócios – exibido pela TV Horizonte, e também palestrante nos temas:
comunicação empresarial, marketing pessoal e carreiras.
(Artigo publicado na Revista Faz Negócios – outubro 2008)
Nenhum comentário:
Postar um comentário